sexta-feira, 23 de abril de 2010

segunda-feira, 19 de abril de 2010

segunda-feira, 12 de abril de 2010

"Diga-me e eu esquecerei, mostre-me e talvez eu lembre, envolva-me e eu entenderei." Benjamin Franklin // Tropicana (Pepsico) traduziu lindamente essa frase numa ação simples e comovente. Levou o sol ao Canadá.

"É no meu silêncio que escapam de mim todos os meus gritos."

Clarice Lispector

Belo texto!

LUIZ FELIPE PONDÉ
Folha de São Paulo - 12/04/2010

"Mrs. Dalloway"
Ver a si mesma como estrangeira na própria alma é o pesadelo da personagem de Woolf

MORAVA EU num kibutz em Israel. No final do dia de trabalho físico extenuante, lia na porta do meu quarto, ensaiando meus primeiros cachimbos. Durante alguns meses devorei livros da escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941). Entre eles, um que me marcou excepcionalmente foi "Mrs. Dalloway", publicado em 1925.
Revi o maravilhoso "As Horas" (2002), com Nicole Kidman. E sempre quando vejo esse filme me lembro de como ela foi essencial, ainda que de modo pontual, em minha visão de mundo. No fundo, sempre suspeitei de que cada dia é mais um dia sob o risco de ser devorado pelo sentimento último da melancolia.
Às vezes na vida se faz necessário rompimentos com o cotidiano para que possamos ver melhor o sentido do que fazemos, ou a total falta de sentido. A vida se degrada facilmente na rotina de tentar mantê-la funcionando, por isso a derrota, como no livro "Mito de Sísifo" (1942), de Albert Camus, pode ser a condição necessária para a consciência repousar em paz consigo mesma. Vencer sempre pode ser um inferno.
Na época, atravessando minha primeira (de várias) crises com minha formação médica então em curso, busquei fugir para alguma fronteira do mundo. Trabalhei no deserto do Neguev algumas vezes e posso dizer que o pôr do sol no deserto vazio é uma experiência de dar inveja. A possibilidade de caminhar pelo deserto, como me disse certa feita o escritor israelense Amós Oz, refaz a alma porque vemos nosso rosto refletido na poeira. O deserto nos ensina a humildade, e a humildade é sempre imbatível. Humildade nada tem a ver com humilhação, mas, ao contrário, humildade fala da consciência de que somos efêmeros como o vento. E só como efêmeros que podemos perceber a dádiva que é respirar. Há um modo misterioso em como o deserto chama seu nome quando você está disposto a ouvi-lo.
Na época, já sabia que Virginia Woolf havia se suicidado e, por isso mesmo, quis conhecer sua obra. Nunca fui um deprimido clínico, mas sempre me surpreendi pelo fato de não sê-lo. Muitas vezes pareceu-me que, se fosse viver pelo que a razão me diz, já teria sucumbido à melancolia profunda. O que me encantou em Mrs.
Dalloway foi seu esforço em ser normal e feliz e acreditar em si mesma e na sua fidelidade à rotina. No dia em que se passa a história, ela organiza uma festa em sua casa. Manter a vida aí se equipara ao esforço descomunal de erguer uma festa quando, no fundo, ela se sente vazia e sem razões para festejar. Entre uma alma triste e uma rotina vazia, ela opta pela segunda como falta de escolha porque não pode confiar na tristeza.
Penso no número enorme de pessoas que se levantam pela manhã assim como quem carrega um corpo que não é seu. Mrs. Dalloway é o fim de quem ingenuamente acredita que as coisas sempre darão certo, bastando festejar a rotina comum. Não, a rotina é indiferente à nossa fidelidade, podendo nos destruir mesmo quando a servimos como a um senhor todo poderoso. O pesadelo de Mrs. Dalloway é se ver como estrangeira em sua própria alma.
Aprendemos com ela que a vida não é necessariamente bela e que tentar negar isso é uma forma de permanecer escravo de sua possível monstruosidade.
No fundo de nossa alma habitam monstros que a muito custo se mantêm em silêncio. Esses monstros, quando o mundo silencia, surgem na superfície mostrando o ridículo de nossa batalha diária.
Quantas vezes mulheres apenas suportam o choro de seus filhos, sofrendo no fundo da alma o horror que é ser obrigada a amá-los quando não sentem por eles nada parecido com amor materno, mas apenas o incômodo causado por aqueles pequenos intrusos em suas vidas.
Quantos homens sufocam diante da certeza de que já vivem uma vida sem amor, sem afeto e sem desejo, mas que isso é tudo que suportam ao lado de suas esposas. Quantos filhos sofrem por se sentir indiferentes para com o destino dos pais idosos, tentando convencer a si mesmos de que o amor pelos pais seria o certo, mas que nada conseguem além de desejar vê-los mortos e assim se sentirem livres finalmente.
Entre as funções da civilização, uma é a tentativa de calar esses monstros criando ritos, rituais, festas para celebrar a frágil vitória contra essas criaturas deformadas, atormentadas pelo completo desinteresse pela vida. A verdade é que não há como civilizá-las, a não ser ensiná-las que elas não têm lugar no mundo dos vivos e que, por isso, devem sucumbir à rotina da infelicidade como norma da vida.

domingo, 11 de abril de 2010

Agradeço por conseguir me colocar no lugar do outro. Ainda quê... apesar de... agradeço. Obrigada.

Uma vontade que tenho de que tudo dê certo, que todos se entendam e que ainda que não se identifiquem, se respeitem...

Aí eu começo a fumar um cigarro atrás do outro, e olhando para a fumaça, procuro respostas certas para perguntas equivocadas. E desde os meus pés até o que me escapa, o que sobra são essas obviedades de mapas complexos e labirintos sem ponto de chegada. Fico em silêncio mas os pensamentos fazem barulho demais. E na bagunça dos meus armários não encontro o que preciso para me manter aquecida. Pra ser mais exata, não encontro nada que ainda me sirva.

Achei bonito...

"Sem engano

De que me adianta saber de você? Desculpe, mas acho que não quero mais. Eu queria, mas não sei se posso. Porque você vem e vai de maneira muito imprecisa. E às vezes é muito bom. Ilumina meu dia, me faz rir, me faz crer que é certo. Mas em seguida é como se eu perdesse tudo e o jogo acaba antes que eu queira parar. Aí não sei mais de você. Não sei se você foi para a praia. Não sei se você viu a lua cheia na madrugada de ontem. Não sei se seu carro alagou com a enchente. Se você teve dor de dente. Se você se distraiu. Se você viu um filme. Se sentiu frio. Não sei mais se sua barba cresceu. Se você parou de roer as unhas. Se você parou de sonhar com os ursos de óculos. Se emagreceu, se engordou. Se beijou aquela menina. Se teve vontade de beijar. Se pensou em mim. Se teve tempo. Se não teve tempo de pensar em nada... É muita dúvida pra mim. Preciso de atenção. Preciso que você me queira bem. E que me diga isso. Preciso que você pare um minuto do seu dia apenas para me dizer oi. Preciso saber que ocupo, mesmo que apenas um pouco, dos seus pensamentos. E se isso faz alguma diferença em seus sentimentos. Precisava saber. E se não sei agora, acho que jamais saberei. Então, de que me adianta?"


Mona Souza

Felizmente minha súbita descrença, não é páreo para a minha esperança insistente.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Muito me identifico... e no presente mais que perfeito!

"Enquanto dormes

Ele lhe cobria o corpo antes de sair. Ela descobria os pés. Não suportava dormir com os pés cobertos. Era uma coisa de adulta. Quando criança tinha frio e usava as meias da mãe, que lhes pareciam mais quentes. Mas agora não, agora tinha calor. Mas ele não podia evitar, cobria-a mesmo assim. Empurrava com dedicação a ponta do lençol para debaixo dos seus pés pequenos e sinuosos. Ela gostava desse cuidado. Não se dava conta, mas sempre dormia melhor assim - mesmo descobrindo os pés."


Mona Souza

Que nossa curiosidade nunca se acabe... e que a inocência seja preservada!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Mania estúpida que temos de acreditar no que não vemos e duvidar daquilo, que sem o menor pudor, se descortina diante dos nossos olhos. Digo "temos", porque tem certos dias que me falta coragem para assumir um equívoco no singular...