quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Personagem Irrelevante

Todos os olhares pareciam te observar, enquanto seus olhos pertenciam ao vazio. Não havia troca concreta. Eles estavam perdidos na fumaça de cigarro e gelo seco que sufocava aquele pequeno espaço cheio de uma música alta e incapaz de fazer dançar.

Todos os desejos alheios se insinuavam para você, enquanto os seus, só queriam ser cortejados. Por qualquer um, a qualquer hora, com qualquer frase rasa que te desse alguma certeza, em detrimento à dúvida absoluta que você tem de si mesmo.

Você parece preferir a conquista momentânea, barata e superficial à qualquer resquício de sentimento que te faça imaginar.

A sua fuga declarada não é menor que sua inconstância imatura. Seu personagem é irrelevantemente irônico e dissimulado. E está tomando conta de você. Ficando maior que você. E te fazendo perder qualquer vínculo que ainda reste entre você e você mesmo.

Você se justifica depois de cada ato e volta ao palco sem qualquer chance de surpreender a platéia, que exausta do seu teatro, abandona a peça no meio. Platéia que em seguida, vai pra vida como se nunca estivesse estado ali. Você está perdendo aos poucos a capacidade de tocar as pessoas. Eu não te acredito mais.

Seu personagem me cansa e deprime. Seu texto, tão cheio de clichês, me deixa a sensação de que você não vale a pena e nem nunca valerá.

Você está se transformando numa letra de rimas fáceis e previsíveis. E falta harmonia na melodia. Falta inspirar, respirar. Falta um convite que valha.

Certa vez o convite foi feito. E foi aceito. E foi sincero. Me comoveu, me arrebatou.

Você já foi um dia, capaz de cometer carinhos espontâneos, mantendo o personagem num lugar de onde ele jamais deveria ter saído...

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