sábado, 19 de setembro de 2009

O bom senso já era, né não minha gente.

Fiquei horas pensando em como contar o episódio que segue. Pensei em falar na terceira pessoa pra fingir que não aconteceu comigo, considerei encarnar um dos personagens da Pixar, que dizem verdades de um jeito fofinho, procurei no google algo sobre aulas de "defuntês" já que morri de vergonha alheia (e devo admitir, própria também), mas fracassei. Foi aí que resolvi relatar os fatos como eles realmente aconteceram. A começar assumindo a tragédia - sim, aconteceu comigo.

Outro dia, indo jantar, esbarrei com um ilustre desconhecido no elevador. Eu saindo, ele entrando. Graças a Deus!!! E vocês já vão entender os motivos de tamanha gratidão divina da minha parte, por não ter ficado alguns andares naquele minúsculo quadrado ao lado do cidadão.

Naquela sexta-feira fui ao salão, pintei as patinhas de vermelho, mandei que deixassem meu cabelo igualzinho aos dos comerciais de shampoo, comprei roupa nova, me perfumei, me maquiei e saí de casa decidida a exuberar - vulgo: estava me achando! Mas definitivamente, causar no elevador não fazia parte dos meus planos.

Chegando em casa, o "Seu Antônio" porteiro do prédio me diz:

- Flávia, deixaram essas flores pra você.

- Cuma?

Os 40 segundos que passei dentro do elevador sem conseguir abrir o cartão, foram suficientes para imaginar todas as possibilidades - reais e improváveis - da origem daquelas flores. Já os 10 segundos que levei para ler, foram o bastante pra que eu me perguntasse: oi? hein? hã?

As flores eram lindas e as palavras delicadas e gentis. Elas falavam sobre um encontro de 5 segundos no elevador, entre o abrir e o fechar de uma porta, com uma mulher que não lhe deixou outra saída a não ser encontrar meios chegar até ela. Achei a atitude impressionantemente segura e incomum.

E terminou o cartão dizendo: prazer, Fulano. 8348 ****. Claro que me senti lisonjeada! Admiro pessoas que pagam pra ver.

(Mas cá entre nós né gente, é óooooobvio que daria merda!! Afinal, quando a esmola é muita...já sabe. Vai veeeeeeeendo...)

Antes de continuar, quero deixar duas coisas bem claras: 1 - eu sou do tipo que acredita que o acaso nos reserva sempre algo mais espetacular do que podemos supor. 2 - as vezes eu erro na mosca.

Pois bem, mandei uma mensagem agradecendo a gentileza. Ele obviamente ligou e falamos muito, sobre muitas coisas, durante muito tempo ao telefone. Confesso que foi um papo divertido que me deixou curiosa em relação ao rapaz.

Aceitei o convite pra jantar. A falta de empatia foi tanta que inventei uma alergia devastadora bem no meio do prato principal, o que por si só, já seria uma bela sinopse da tragédia. Ela piorou, quando entramos no carro pra ir embora e ele disse: escolhe um CD pra gente. Bom, entre Padre Marcelo, Roupa Nova e Fábio Junior, eu escolhi morrer. "Querido, me leva pra casa sem música mesmo, defunto não escuta" Como eu gostaria de ter dito isso. Mas fui delicada e disse: "que tal colocarmos na OI FM? Super legal, já ouviu?" O silêncio seria ensurdecedor caso a OI não estivesse ali. Nada deu liga. Nem o papo, nem as históras de vida, muito menos as preferências musicais.

Há duas quadras de casa eu já segurava decididamente a maçaneta da porta do carro, para que não houvesse chance dele desligar o motor. ELE DESLIGOU. Só pra gastar gasolina e poluir o mundo, já que desci do inferno em um segundo dizendo apenas: valeu.

Apesar de ele ter meu endereço, meu telefone e de eu ser vizinha da irmã dele, imaginei ter ficado claro que JAMAIS nos veríamos novamente. Havia um luminoso na minha testa dizendo: NEM PENSE EM ME CHAMAR PRA SAIR DE NOVO. Gente, eu não dei nenhum aperto de mão em agradecimento ao jantar. Eu fugi daquele carro como o capeta foge da cruz.

Ainda assim, o recordista mundial da falta de noção e de bom gosto musical, me ligou exaustivamente TODOS os dias por DUAS semanas. Eu não atendia, ele mandava mensagem, eu não respondia, ele ligava de novo. Sem obter resposta alguma, ele resolveu visitar a irmã e claro, teve a brilhante idéia de me interfonar dizendo: Fláaaaaa, vem aqui conhecer meu sobrinho!!!

Bom, fiquei uns 30 segundos mergulhada naquela hecatombe até que soltei a seguinte frase: fulano, estou com visita em casa e não achei delicado essa sua atitude. Você já me ligou 3 vezes essa tarde e eu não atendi. Qual a parte do "não estou interessada" eu vou ter que desenhar? Daí vem a pérola: desculpe. Você está ocupada né. Eu te ligo essa semana pra gente combinar um jantar.

Minha Mãe Menininha do "Cantuá"! Tenha piedade dessa alma inadequada. O Cara tem um vestido de noiva na mochila. Bobeou, ele te leva pro altar.

Acho que ele é do tipo que vê novela. Daí fantasia que o amor da vida dele vai aparecer do nada, numa situação improvável e se apaixonar loucamente pelos seus lindos olhos verdes. Ah claro, e se impressionar pelo seu pitoresco gosto musical.

Vou falar viu, devo ter picado cebolinha na tábua da salvação pra ter um tipo desses na minha cola. Nada pior que gente insistente que se recusa a aceitar o não como resposta.

Volta pro mar, oferenda. Volta.

5 comentários:

Unknown disse...

Olha o psicopata do elevador deixando o seu legado...
Ele párou de te interfonar (rsrs), né?
Pelo menos, serviu de inspiração (se é que essa palavra cabe aqui...acho que seria melhor, desabafo...) para um texto divertido !
Bjus.

Unknown disse...

fla, hahahhahaha não dá
mas, nos conte. ele era como fisicamente? bonito? magro? gordo? dentes podres? ahahaha
Mãe Menininha do Gantois, hahahhaa
vc é demais, hors concours mesmo

Flá Campos disse...

Gente...pior que ele é super OK. Gatinho, fofo...MAS NÃO TEM LIMITES...PARECE UM CHICLETE... não rolou a menor empatia...e ele grudado...pra que? ave...depois da segunda ligação sem retorno é hora de parar né...

bnagumo disse...

taí. eu sempre fui um chiclete e não sabia, quelle merde! :)

pelo menos... mais um código feminino foi desvendado... depois da segunda ligação sem retorno é hora de parar

adorei seu texto! e boa sorte!

Unknown disse...

Muitas saudades das suas historia doidas!!!!!
Beijos