quarta-feira, 7 de julho de 2010

Do blog do Fabrício Teixeira... postei pq achei comovente...

Um e outro

"Eu lembro das primeiras palavras, de quando a gente não tinha olho pro outro, só o ouvido, que gostava das mesmas notas. Eu lembro de quando a gente aprendeu a escrever pro outro, copiando letras de formas desconhecidas. A gente era tímido da vida. O outro entendia o um, o pouco que a gente tinha, escondia mostrando. A gente foi crescendo querendo ser bom, e fomos bons? A gente podia ser tanta coisa que tinha medo de escolher. E se do outro lado fosse melhor? Eu lembro de quando a gente se afastou, o outro não brigou, era silêncio só. A gente sempre entendeu silêncio, era uma língua que a gente traduzia pra dentro. E esperava. A nossa pressa era com a gente, do outro se tinha certeza. Eu fui embora e te escrevia. Os anos, os dias, as formigas. O outro perguntava como era pensar em outra língua, numa ilha à deriva. Como era? Eu era outra. A volta era sempre diferente, a gente não falava muito. Ouvia música, falava poesia, e era noite. Eu lembro que esquecia. Mas o outro lembrava. Como se missão fosse, dever de casa. Tinha um jeito de relembrar sorrisos e costurar palavras, uns nós nos outros. Como se fosse durar pra sempre, o vento. Um jeito de me soprar na direção correta.


Amovocê. Apesar de tudo, e por isso mesmo."

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