quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Pedacinho de gente com cheiro de talco!

O Theo tem me ensinado a ficar atenta aos enredos, as vírgulas, as pausas, aos silêncios. Antes dele, eu tinha mais palavras, mais frases de impacto, mais provas racionais para tudo. Hoje, sinto que perdi boa parte do meu extenso dicionário que pretenciosamente tentava explicar a vida. Há tempos não abro meu manual de instruções que estipulava as regras, definia as pessoas, controlava o tom, o timbre, a intensidade do que era dito e mostrado. Meu filho trouxe a tona a fé que sempre tive na paixão. Uma fé que por algum tempo pensei que deveria ser amenizada, domada, condicionada a ser mais discreta. Afinal, a fé na paixão fala alto, faz barulho, não se conforma, entra em confronto, abre caminho, muda as regras, destrói zonas de conforto e muitas vezes, incomoda. Reverenciar nossas paixões certamente nos leva a conhecer o sucesso, o fracasso, o ridículo, o invejável, o doído, o bálsamo, o peso, a cura e a leveza. Não dá para viver essa fé sem correr o risco de se decepcionar, de desagradar, de passar pelos mais diversos tipos de julgamento. Mas não conheço outro jeito de viver a vida que não esse. E quando vejo que meu filho reviveu em mim todo o barulho contido no silêncio, todo o movimento presente na pausa, cada recomeço que nasce das vírgulas e não apenas dos pontos finais, passo a entender melhor as razões pelas quais eu nunca pautei a genialidade de um livro pelo que estava escrito em sua última página, muito menos por um único capítulo que possa ter de sobressalto, me entediado. Cada novo dia descortina uma nova chance de escrever um capítulo melhor, exercitando a fé que temos em nossas paixões. E aí meus amigos, vale lembrar que o desenrolar do enredo é cheio de possibilidades. Afinal, a vida tem muito mais vírgulas que pontos finais.

Nenhum comentário: