Acontece que alguns...
Exilaram a magia. Confiscaram a piada. Aprisionaram o pensamento numa gaveta pequena e fria. Na crença vil e míope de manipular o tempo, transformaram dias de inspiração pulsante, em míseras horas de noites tão insones quanto improdutivas.
Levaram embora a capacidade de surpreender. Fizeram um selo com o mantra "agregar valor" substituindo, insanamente, a graciosidade elementar por argumentos patéticos. O memorável pediu o divórcio e não deixou o novo endereço.
Por medo de apostar no incomum, elegeram a mesmice como porta-voz vitalícia das mensagens nossas de cada dia. O valor das idéias deixou de ser uma causa pela qual vale à pena lutar para virar um slogan.
Surrupiaram a inspiração e andam por aí pagando o que for necessário por algo que faça o raso parecer profundo. Proibiram a grande idéia de transitar livremente pelas cabeças de quem quer que seja, já que elas se encontram ocupadas demais em cumprir os prazos.
Burocratizaram sentimentos e intuições. Engravataram a liberdade. Censuram a vocação. Assaltaram o talento deixando o coitadinho por aí, constrangido e de calças curtas.
Prescreveram ansiolíticos para a inquietação criativa. Colocaram no pedestal a repetição, as perguntas irrelevantes, as respostas velhas e sem dentes.
Racionalizaram, endureceram, se equivocaram e não satisfeitos, elevaram a arrogância à milésima potência, causando a impotência - espero que temporária - do dom de transformar uma puta idéia em gargalhadas, diversão, lágrimas, motivação e por fim, no tão esperado, relacionamento.
Ainda assim, eu acredito. Apesar de tudo, tenho absoluta certeza da fragilidade da miopia. Afinal, temos muitos corações encantados por aí, semeando pacientemente, a possibilidade da volta do encantamento.
Que seja possível encantar, que do encantamento venha o desejo e que cada desejo se transforme em realização.
13 comentários:
o que vc escreveu não é nem um pouco lindo. mas o texto é. e eu mega me emocionei. :*
Olá,
Visitei o seu texto sob a recomendação de uma amiga. Preciso manifestar a minha admiração e epifania diante do deslumbre que é o seu texto. Ganhou um fã, com certeza! Ganhei uma referência, sem sombra de dúvida.
Curti demais seu texto.. até retwittei ele..beijao e continue assim!!!
Não conhecia o seu blog. Adorei seu texto. Parabéns. eijo.
Flávia, acabo de chegar ao seu blog, e a este texto maravilhoso, através da Sheila, sua amiga.
Não há comentários a fazer. Suas palavras são sábias, sensíveis e, rogoa Deus, premonitórias.
Deixo aqui meu singelo recado. Mais um ôla de celebração a tudo que não pode mais ficar enrustido em nome da mesmice e da retórica vazia.
ADriana Cury, mais uma alma encantada.
É por pessoas como vc que continuo acreditando....
Obrigado por escrever e compartilhar.
Bjs
DJ
parabéns Flávia, seu texto me emocionou, te transcrevi no meu blog, okay?
http://spreadthings.wordpress.com/2009/09/10/nao-e-a-regra-e-cabe-a-nos-nao-deixar-que-seja/
um beijo! (vc ganhou um leitor!)
Bruno
Flávia,
pirei em cada linha do teu post.
Frequentemente fico praguejando que a culpa do desencanto de tudo é nossa.
Repassei este link, é claro.
Tem algumas lamúrias minhas aqui:
www.alostsupreme.wordpress.com
Bjox
Meus queridos - tomei a liberdade de chamá-los assim, pela emoção que me causou ler as palavras tão delicadas escritas por cada um de vocês - obrigada! Pela leitura, por me inspirarem a continuar, por estarem aqui. Sejam bem-vindos! Beijo com carinho. Flá.
Flávia, lindo e verdadeiro. Só não sei se eu ainda acredito também. Mas estou tentando. Pelo menos enquanto houver gente como você. Beijo.
Q amor.
Me fez lembrar o texto da Adriana Falcão - Boletim de ocorrência. Lembra?
O seu texto nos toca lá no timbre da alma. Nós, que trabalhamos com idéias e somos 24h talhiados pelo que chamam de timing, business plan, schedule and whatever fuckin´english word means...entendemos a fundo o que vc transmite por meio das suas epifanias...Continue nos enaltecendo sempre.
Vc é o cara.
bjs,
Karina Fã Kattan
Assaltaram a gramática
Assassinaram a lógica
Meteram poesia, na bagunça do dia-a-dia
Sequestraram a fonética
Violentaram a métrica
Meteram poesia onde devia e não devia
Lá vem o poeta com sua coroa de louro
Agrião, pimentão, boldo
O poeta é a pimenta do planeta
Lembrei disto.
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