sábado, 12 de dezembro de 2009

Achei tão lindo isso....

"DO MEDO DO (a)MAR

Não, não tenho medo de nada. Não tenho medo do escuro, não tenho medo da fome, não tenho medo da miséria. Não, não tenho medo. Nem do ontem, nem do amanhã. Muito menos do hoje. Sou um ser absolutamente sem medos. Não tenho medo de barata, nem de político safado, nem de mentira, nem de calúnia, injúria ou difamação. Não tenho medo de falar errado, nem de falar em público. Nem de falar errado em público. Sou um ser sem medo algum de coisa nenhuma. Não tenho medo de bomba atômica, nem de pular de pára-quedas. Não tenho medo de assalto, não tenho medo de câncer, muito menos de aids, já que não tenho medo de usar camisinha porque não tenho medo de não sentir prazer, e é porque não tenho medo de descobrir prazer até no que eu (se tivesse algum medo, evidentemente), poderia ter medo. Sou um ser completa e estranhamente sem medos. Não, não tenho medo nenhum de quebrar a perna, de perder o bilhete premiado da megasena acumulada, muito menos tenho medo de sofrer derrame, infarto do miocárdio, traumatismo craniano ou crise depressiva aguda. Medo eu não sei o que é. Não tenho. Nenhum pingo de medo algum. Sou tão sem medo, mas tão sem medo, que não tenho medo de asa-delta, nem de ser enterrado vivo, nem de perder um braço, uma perna ou um olho. Nem de perder o pinto. Tem homem que morre de medo de perder o pinto, porque tem medo de que, sem o pinto, não seja mais homem. Eu não tenho esses medos. Não sei o que é isso. Medo. Palavra estranha, grafada com quatro letras, como são quatro os cavaleiros do apocalipse. São quatro, mesmo, ou são seis? Quatro, seis, doze... Não importa, talvez seja ridícula essa comparação, mas nem do ridículo eu tenho medo. Eu não tenho medo de nada. Nem de inflação, nem de hiperinflação, de deflação, de infecção, de perturbação. Não tenho medo de nenhuma convicção ou imperfeição, nem de nenhuma participação em algo que seja obscuro, inseguro ou que permita que me chamem de obtuso. Sou um homem sem medos, consequentemente sem pavores. Obviamente, sem pânicos. Nada. Nada me tira do sério. Nada... Hã? Você... Está... Chorando? Porquê? Hein? É alguma coisa comigo? É? Diz pra mim... Você está me assustando... Por favor, fala... Não, não é medo... É assim... Uma sensação estranha... Olha pra mim... Não chora... Está certo que seus olhos ficam lindos assim, com cheiro de mar... Mas pare, por favor, porque de repente esse mar dentro dos seus olhos te leva lá pra longe, pra dobra do mundo... E quem sabe, mesmo, o que haverá por lá?"


André Gonçalves

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