sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Irritante

Eu tenho conseguido um monte de coisas. Minha vida ultimamente acontece no gerúndio. O trabalho que me consome e alimenta, os amigos que me procuram o tempo todo. Entre taças de vinho, fumaça de cigarro, risadas aos montes e algumas lágrimas perdidas, minha estória vai. Pra onde? Sei não. Mas vai, sem querer parar, sem temer, sem cansar.

É, eu tenho conseguido um monte de momentos inesquecíveis e verdadeiros, ao lado de gente de verdade, saca? Gente real? Sabe aquele tipo que sofre, que chora, que ri, que faz merda, que cai e se levanta? Então, esse é o tipo que mais me comove. O Pão de Açúcar que me perdoe, mas detesto gente feliz 100% do tempo. Não é possível que um cidadão acorde radiante, tome seu banho radiante, o seu café radiante, pegue um #trânsitodosinferno# sem perder, digamos assim, a "radiância". E o existencialismo? Morreu?

Eu gosto do sarcasmo e de um certo mau humor, quando bem aplicados.

Mas sem querer parecer ingrata, algumas coisas me I.R.R.I.T.A.M! Tá, tudo fluindo. A vida fluindo, as amizades fluindo, o trabalho fluindo, mas o coração, esse tá numa inércia de dar dó. Tadinho. Só anda pra trás ultimamente, só escolhe o que não presta - mas isso é uma constante. E tem vivido de passado - outra constante, ai que uó. Porque se "você, entidade" ainda não se deu conta, "você, entidade" mora no passado. Mesmo que vague feito alma penada pelas madrugadas dos meus maus lençóis - odeio trocadilhos, mas foi inevitável.

Acho tão estranho essa "modernidade" que produz robôs. Todo mundo sorrindo. Dançando. Gritando "uhuuuu" com os bracinhos pra cima. Gente de borracha, de latex. Gente feliz demais. Cadê a boemia? Cadê o ar de sofrimento? Cadê Vinícios? Cadê o poetinha? Cadê a poesia? Onde é que foi parar a realidade que combina desilusão e esperança? Choro e gargalhada? Certeza e dúvida?

E pior, se não estamos todo o tempo incondicionalmente "felizes", ridiculamente engraçados, piadistas, pseudo-inteligentes, somos ignorados, criticados, taxados como "pessoas estranhas".

Prefiro ser estranha a ser patéticamente previsível.

E sou feliz, e tenho meus momentos de tristeza, mau humor, sarcasmo. E sou feliz. Por ser capaz de sentir, por poder surpreender, por não ter vergonha de ficar chata, neorótica, crítica e afins.

Um comentário:

Unknown disse...

Exercícios importantes.

Muito melhor do que refletir sobre o que há de errado, é refletir sobre o que há de certo.

Ninguém faz análise pra entender que a vida cresceu, que evoluiu. Só quando alguma merda acontece. Um erro. Sou muito mais entender os porques dos acertos do que dos erros.

É estranho mesmo. Boa parte do seu texto podia ter sido escrita por mim. Odeio Uhuu. Odeio alegria gratuita. Assim como sou adepto da terapia do choro no bar, das coversas com Milton, Jobim e Coltrane, de ser autentico e assumir que o que há de errado deve ser corrigido, e não lamentado ou mal tapado com qualquer peneira suja de red bull.

Um viva para pessoas vida real.
é isso. muito prazer. Z.