quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Do Inverno à Primavera

A porta estava entreaberta quando ela chegou. O sono dele era leve como de uma criança prestes a despertar. Seus cabelos lindamente despenteados eram um convite ao carinho. Ela se deitou ao seu lado sem fazer barulho, aconchegou-se ali e atendeu ao convite.

Ele se aproximou ainda mais como era habitual. O sono dele foi se tornando profundo na mesma proporção que o amor dela aumentava.

Ela olhava para o seu amor com profunda admiração. Querendo que o sono dele fosse o remédio para todos os seus conflitos. Desejando que aquele momento se repetisse por anos a fio. Diante daquele cenário, tão comum nos finais de semana, ela só tinha certezas.

Certeza de que as dificuldades seriam superadas, de que ela era em definitivo o amor da vida dele, certeza de que ambos seguiriam juntos aparando as arestas.

Por um bom tempo foi assim.

Mas lenta e irreversivelmente, o desencontro que antes só habitava o medo dela, foi se aproximando da vida real. Ela tentava segurá-lo agarrando forte. Ele queria respirar se perdendo dela.

Eles não conseguiam mais o entendimento em ponto algum. Feridas profundas eram abertas diante de motivos rasos.

Só uma coisa se manteve até o fim. O aconchego entre eles naquela cama quentinha.
Até o fim ele falou do seu amor. Até o fim, ela acreditou e correspondeu.

Mas as mãos deles se soltaram. E ninguém sabe quem tomou a decisão. Mas ouvi dizer que foi a vida. Foi ela a responsável pelo ponto final. Ouvi também que o inverno dela foi mais devastador que o dele. Certa vez ele disse que ela tinha vocação para a tragédia. Mas acho que não. Ela apenas demora mais a se conformar com as perdas. Ela acredita que todo luto deve ser vivido até a última gota. Para que os fantasmas nunca mais assombrem.

Eles tomaram caminhos diferentes. E o inverno passou. A primavera chegou com suas cores e repleta das possibilidades tão vitais para sermos felizes.

Sobre a felicidade deles depois da ruptura eu não sei dizer. Nem sobre noites solitárias que vez ou outra possam ter cobrado as respostas que eles nunca conseguiram ter.

Mas de uma coisa eu tenho certeza: quando um amor como esse se acaba o mundo inteiro se entristece. E depois volta a sorrir com a chegada da primavera.

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