quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Voltando a viver

Era uma mulher intensa, intempestiva, apaixonada, apaixonante. Geniosa, genial, divertida, irônica. Mergulhava em suas tristezas e alegrias com a mesma profundidade. Mas aos poucos, foi deixando de lado a sua luz, que até então, brilhava incansavelmente. Ela passou a viver na escuridão de uma tristeza que não era dela. Que não lhe cabia, que nunca lhe caiu muito bem. Ela fez uma escolha errada. E foi até o fim. Vivendo a incapacidade do outro como se fosse autenticamente sua. Ela perdeu o trem, o vôo, o ônibus. Aliás, por um bom tempo muito ruim, ela deixou que as novas chances passassem por ela sem que ela fosse tocada. Ela acreditava cegamente que poderia iluminar a escuridão alheia. Que iria dar sentido a uma vida opaca. Que conseguiria indicar o caminho para alguém completamente perdido.

Ela se doou, se entregou, se machucou e se perdeu. Passou a viver uma história sem cor, sem graça, sem futuro, nem presente, nem passado. Enquanto a vida acontecia lá fora, ela só sabia daquelas quatro paredes brancas que aprisionaram a sua alma ao lado de alguém que nunca valeu a pena.

Era uma mulher gigante, guerreira, honesta, inconfundível. Mas deixou de lado todas as suas melhores virtudes para viver os incontáveis defeitos de alguém sem razão, desprovido de bons sentimentos. Oco, raso, banal, desinteressante.

Por quê? Porque ela era sonhadora. E no conto de fadas ingênuo que ela criou, o sapo viraria príncipe ao longo da história. Ela o salvaria, ele lhe seria grato, e viveriam felizes para sempre.

Não aconteceu.

Ela se perdeu e não conseguiu salvá-lo. Ele, descuidado que era, nunca lhe foi grato. Ela nunca foi feliz ali.

Um dia, ela decidiu fazer a escolha certa. E num ato de amor incondicional por ela mesma, resolveu voltar a ser feliz. Ela escolheu a vida, ele, a banalidade. Ela optou pelo sim, ele, pelo não. Ela decidiu prosseguir, enquanto ele, recuou.

Ela voltou a ser TUDO aquilo que sempre foi e ele, continuou sendo SÓ aquilo que sempre será.

E foi então que ela voltou a sorrir.

Nenhum comentário: